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Como enfrentar o vírus do tribalismo nas Empresas

Cultura Organizacional: como enfrentar o perigoso vírus do tribalismo e construir a cooperação na sua empresa

A cultura organizacional é o resultado das relações humanas contruídas a partir de dois eixos centrais: a) o da base, isto é, entre os colaboradores e b) o eixo do topo, ou seja, entre os líderes e os seus colaboradores. O boa cultura organizacional é decisiva para o êxito das organizações. No entanto, é possível detectar que os gestores enfrentam graves problemas, nesse campo: conflitos entre setores, ruídos de comuinicação e falta de proatividade são as consequências mais evidentes da disfunção uma cultura organizacional.

O objetivo desse  artigo é apresentar algumas ideias e ponderações sobre o esforço que gestores e colaboradores devem levar a cabo no cotidiano de convivências e de relações, em ambientes corporativos densos e desafiadores. Tais ideias são reflexões iniciais que têm o fim de contribuir para o aperfeiçoamento da cultura organizacional das empresas. Tarefa que não deve ser exclusiva do setor de Recursos Humanos mas, de todos que compõem a organização. Nessa perspectiva, uma pergunta perece ser fundamental: Como podemos entender o comportamento dos atores que compõem as forças motrizes da cultura organizacional da empresas?
 
O sociólogo e músico norte-americano Richard Sennett pode ajudar a encontrar a resposta. Ele define a sociedade contemporânea, utilizando o conceito de tribalismo. As organizações estão dentro dos contextos sociais. Assim, é possível ampliar a definção de Sennett compreender as organizações nos dias de hoje valendo-se do seu conceito: O tribalismo une solidariedade com aqueles que se parecem e agressão aos que são diferentes. É um impulso natural, já que os animais são em sua maioria tribais; caçam em bandos e delimitam territórios a serem defendidos…(SENNETT, Richard. Juntos. RJ: Ed. Record, 2012)
 
O tribalismo é a realidade de muitas empresas; determinados setores circunscrevem terrítórios, definem as suas próprias regras e travam uma guerra interna permamente, as vezes veladas e outras vezes explícitas, contra os demais setores. É o que chamo de canibalismo autofágico ou para ser mais simples, convivendo com o inimigo.

Certa vez ministrei um treinamento sobre estratégias de negociação para 300 funcionários de uma grande empresa que buscava a liderença em seu segmento. Após uma hora de trabalho estava claro que o problema não estava nas negociações com os clientes, mas, na total falta de cooperação e negociação entre os setores e os colaboradores de empresa. Fiz uma reunião com o RH e comecei a trabalhar enfrentando o maior problema da empresa: a total falta de cooperação entre gestores e colaboradores. A rigor, a situação parece ser não a exceção, mas a regra.

De fato, O modelo tribal de cultura organizacional é insustentável, em um mundo de complexidades e diversidades. Todavia, a organização tribal vem ocupando e dominando praticamente todas as instituições sociais, inclusive as universidades, criadas na Idade Média e aperfeiçoadas ao longo da modernidade, com a tarefa nobre de reunir a diversidade e o múltiplo, em uma palavra, o ecumênico.
 
O tribalismo é uma força extremamente negativa que está à serviço da deteriorização das diferentes relações, vivenciadas no ambiente corporativo; estimula a fragmentação, a falta de proatividade, alimenta o cinismo, a ausência de compromissos, comprometimentos e à anomia. Em outras palavras, debilita em seus alicerces a ética que deve existir nas relações profissionais. Dessa forma, funciona como um poderoso vírus capaz de destruir e contaminar a cultura organizaciol das empresas.
 
A filosofia da unidade tribal reduz a complexidade pessoal e coletiva dos gestores e dos colaboradores. Elimina o livre pensar. Empobrece o eu e outro, fazendo da alteridade, apenas um exercício de retórica. Todavia, o seu conteúdo mais nefasto é: inviabilizar a cooperação, isto é, a troca em que todas as partes se beneficiam. Em outras palavras, oranizações dominadas pelo tribalismo estão no caminho oposto ao da criatividade e inovação e muito próximas do tédio, da frustação e da estagnação.
 
Trata-se de um fenômeno que funciona no sentido de obstacularizar a nossa possibilidade de construir o que poderíamos denominar de essência humana e, portanto, um substrato fundamental para fazer do trabalho uma ferramenta para as pessoas serem felizes. É nosso dever de ofício acreditar que: o apoio recíproco está em nossos genes, cooperamos para conseguir o que não podemos alcançar sozinhos. O individual e o coletivo funcionam melhor quanto estão em sintonia, ou seja, em relação dialética, nas sábias e sempre atuais palavras de Aristóteles.
 
O tribalismo e a sua obsessão com a demarcação de território, opera como a gota de óleo que uma vez jogada em uma folha de papel, lentamente se apodera de todo o espaço. Nas empresas, o tribalismo colabora para destruir a cultura organizacional, porque elimina a cooperação, ou seja, inviabiliza a convivência entre as diferenças e colabora para a delimitação de terrítórios: “os funcionários da minha divisão”, “o tapete da minha divisão”, “a mesa da minha divisão”, isto é, da minha tribo. O tribalismo leva à insustentável estratégia, segundo a qual, trabalhar é construir muros para me proteger do outro, ou de qualquer ameaça. Nessa ordem, torna impossível o tecer dos pontos de interseção, fundamentais para a existência de esquinas, espaços de trocas, de convivências múltiplas, diferenciadas e, portanto, enriquecedoras.
 
Como enfrentar os tribalistas? Devemos utilizar as ponderosas armas da cooperação intense. A forma mais eficaz é empregar o antivirus da cooperação e enfrentar e derrotar o tribalismo nas suas bases. Para tal, a estratégica mais profícua é colocar em prática, e exercitar permanentemente, as nossas habilidades dialógicas:
 
a. Ouvir com atenção.
b. Agir com tato.
c. Gerir a discordância.
d. Encontrar ou construir pontos de convergência.
 
As nossas habilidades dialógicas são ponderosas ferramentas a favor da disseminação da cooperação intensa, isto é, da energia capaz de abater o tribalismo. Não devemos construir muros, mas, caminhos e atalhos que nos aproximem do outro e promovam, dessa forma, a cooperação intensa, substrato da nossa essência como seres humanos e como profissionais.
 
A empresa que você trabalha pode estar contaminada pelo vírus do tribalismo e você não se dá conta, pois, o vírus contaminou toda a cultura organizacional. Fique atento e não se deixe contaminar, procure aliados e construa uma cooperação densa. Os homens gostam de construir muros, chegou a hora de construir pontes.

Sidney Ferreira Leite é PhD em comunicação, Pró Reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e Consultor de Empresas. 

 

Fonte: Sidney Leite

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